Muitos leigos não sabem como escaladores conseguem chegar ao cume de uma montanha e algumas das frequentes perguntas são:
– Mas você sobe colocando alguma proteção?
E como a resposta usual é “sim”, o mesmo amigo faz a segunda pergunta, clássica:
– Mas como? Já existia alguma “coisa” pregada na rocha ou você escala e coloca ao mesmo tempo?….
Após centenas de segundos explicando os diferentes tipos de escalada ao seu colega, o que aparenta ser incompreensível à uma mente leiga, vem a frase conclusiva:
– Vocês são loucos!!!!
Brincadeiras a parte, este post é dedicado a um assunto simples: uma das formas de subir uma montanha. Esta pergunta remete a uma outra pergunta, mais técnica: O que são proteções móveis na escalada?
Para melhor introduzir o tema, digamos que existem diferentes estilos de escalada em livre com corda, as quais podem ser resumidas, basicamente, em: escalada tradicional ou esportiva. Resumindo, são duas formas diferentes de se chegar ao mesmo objetivo, o cume/o topo!
Neste texto serão tratadas apenas as especificações e utilidades das proteções utilizadas na escalada tradicional, ou seja, o tipo de escalada na qual uma dupla (ou trio) tenta escalar uma parede que não possui nenhum tipo de “parafuso” pregado à rocha [foto 01], diferente de como é na escalada esportiva [foto 02]. Ou seja, você tem que escalar com equipamentos que, por mecânica, se encaixam em formações naturais das rochas, como fendas, buracos, lacas, bicos de pedra etc. Estes equipamentos, especialmente desenhados para isto, são colocados e retirados pela mesma dupla que escala a via (o primeiro as coloca e, geralmente sem descer ao chão, o segundo escalador sobe a rota retirando estas peças), deixando nada mais que marcas de magnésio como traços do caminho seguido.
Colocar as suas próprias proteções enquanto escala (foto 3) certamente apimenta a subida, pois algumas incertezas sempre passam pela cabeça. Dentre as mais frequentes estão:
– Se eu tomar uma vaca (cair) a peça vai me segurar e evitar que eu caia até o chão?
– Esta porção da rocha é de “boa” qualidade (está firme) e não vai quebrar, caso eu caia?
Tais dúvidas fazem com que o escalador, frequentemente, não escale o grau limite de dificuldade que ele consegue, contudo, alguns poucos “imortais” realizam esta temerosa tarefa, pois isso definitivamente aumenta o nível físico e mental do exigido para o escalador. Estes que encaram extremas graduações de dificuldade utilizando somente proteções móveis podem se nomear especiais (caso tenham curiosidade, busquem por Sonnie Trotter, Matt Seagal, Dean Potter – escalando pela primeira vez uma face da “Thumbstone”, fora os ingleses CASCA GROSSA, claro, como David MacLeod – escalando pela primeira vez “Rhapsody”).
Indo ao que interessa, abaixo seguem algumas imagens e breves descrições dos equipamentos mais utilizados e das situações nas quais os mesmos são úteis. Todos possuem uma larga variação de tamanho, visando abranger as mais variadas condições naturais apresentadas pelas rochas (fendas estreitas, largas, médias, etc.).
Nuts (stoppers) – Proteção passiva
É uma peça de metal de quadro lados, não homogêneos, que, quando colocados em fendas de largura variável, travam por constrição, funcionando somente pela sua própria geometria – veja este link (http://vimeo.com/58429069). Na foto destaque do post, nosso amigo Marcus “Rufino” colocando um nut durante nossa última escalada internacional – El Frey, Argentina (2013).
Hexentric nuts – Proteção passiva
Basicamente, esta peça é um nut com seis lados e, assim como o propriamente dito, foi muito utilizado na escalada tradicional pré 1970, época na qual os friends não existiam. Bastante utilizado em fendas horizontais.
Tricam: Proteção ativa/passiva
Proteções muito utilizadas, porém não tão “famosas” quanto os nuts ou cams, talvez por serem exigirem um pouco mais de experiência do escalador durante a colocação.Podem ser utilizados como proteções passivas, seguindo a mesma lógica de um nut, ou como proteções ativas (veja as figuras abaixo). Além desta versatilidade, estas proteções ainda são leves e apresentam menor custo, o que as deixa interessantes para muitos escaladores.
Para mais ver: http://www.climbing.com/skill/tricams-101-a-guide-to-using-this-tool/
Cams (Friends, Camalots, TCUs, C3’s, etc.) Proteção ativa:
São dispositivos mecânicos de rotação que se acionam por pressão/constrição. Sei que é difícil explicar sem uma apelo visual, portanto vejam este link (http://www.youtube.com/watch?v=4Bja4qDjgRg). Este tipo de proteção, em especial o “friend” – inventado por um escalador americano frequentador assíduo do “Yosemite Valley”, surgiu na década de 1970 e revolucionou a escalada tradicional, permitindo proteger fendas que possuem a mesma largura por metros a fio (onde nuts não funcionam muito bem). Os nomes dados aos dispositivos são, frequentemente, um “apelido” dado pela marca que os produz ou pelos próprios escaladores e, por isso, apesar de possuírem as mesmas funções e engenharias similares, são conhecidos por diferentes nomes. Friends e Camalots se enquadram no mesmo grupo, pois são dispositivos que contam com quatro unidades de constrição/atrito, já os TCU’s/C3’s, por exemplo, se enquadram no grupos dos dispositivos com três unidades de constrição/atrito, esta é a diferença.
Rack it up and go climbing!